Tudo é comunicação, tudo é significado, tudo é forma. A forma depende da perspetiva, o significado depende do contexto e a comunicação sem forma nem significado, é ruído. O ruído é a confusão absoluta, a estética é a resolução do problema. Debatível. Resumiu-nos Saramago, com extrema sabedoria, que “o caos é uma ordem por decifrar”. A coisa torna-se coisa depois de entendida como tal, e assim funciona o nosso arquivo de coisas que existem e de coisas que ainda se hão-de tornar.
Produtos, coisas. Bernardo Grécio (Almada, 1997) é designer de produto, entre outras coisas. Dedica a sua força produtiva sobretudo às coisas visuais e materiais. Atualmente trabalha na área de cenografia e projeto da Óbidos Criativa, uma empresa municipal de dinamização cultural. Também é assistente de produção para outros artistas, fotógrafo e artista plástico, tendo recentemente começado a explorar a pintura a pastel de óleo.
Escolheu Artes Visuais no secundário, mas só quando chegou à ESAD (Caldas da Rainha) é que entendeu o que era o Design. Depois do secundário sentiu alguma resistência em continuar a estudar, mas quando terminou a licenciatura, o mindset tinha-se invertido totalmente e seguiu diretamente para o mestrado. Sente-se a cola entre Grécio e o maravilhoso mundo do aprender. Fala com admiração de alguns professores, a começar pelo professor de desenho do secundário. Nesse período de transição, as opções do setor artístico que lhe tinham sido introduzidas limitavam-se às mais clássicas. Ponderou Belas-Artes, mas a sua obsessão por desenhar carros dirigiu-o para o Design. Quando visitou pela primeira vez o estúdio de multimédia da ESAD, recuperou uma memória dos seus 8 anos, quando teve a sua primeira câmera fotográfica e, inadvertidamente, pôs-se a fotografar louças e outros objetos da casa com um lençol branco no fundo. Para quem não sabe, isto é o ponto zero da fotografia em estúdio. Tudo fez sentido, porque às vezes o determinismo é gigante.
Mas Grécio é só moderadamente determinista. Durante o tempo em que fazia a tese, teve que recorrer a máquinas de costura. Fez um detour da investigação e começou a costurar sobre papel e a desenhar com a máquina de costura. Também já transformou um tijolo num suporte para frascos de especiarias, uma mangueira num assento de uma cadeira e um tapete numa jarra. É uma opção deliberada trabalhar a partir de objetos que já existem, “começar a trabalhar do 1 em vez de começar do 0”, explica. E há muito humor na refuncionalização, e esse humor concretizado esteticamente é prazer.
Admite ser um pouco impaciente, mas é só porque adora fotografar. Ou seja, ainda está o produto a germinar, e ele já anseia comunicá-lo a partir da imagem. Diz-se viciado em estética, num sentido denso, que a estética é um campo complexo. Eu penso que Grécio é um observador do “invisível” daquilo que é visual e um montador de relações improváveis. No entanto, há sempre uma lógica dedutível, uma forma equilibrada, um enquadramento legível – como se o objeto se tornasse mais objeto porque o todo e as partes valorizaram-se mutuamente, ainda que desobedecendo da sua programação primária, mas reforçando a sua polivalência. Uma cadeira é uma cadeira, que é um cabide, um banco, uma mesa, etc. Esta desobediência material também se expressa na forma como fotografa, mas num plano mais estético – a sua retina é lente e por isso a sua lente é retina. O detalhe, a semelhança ou a diferença, a luz, os planos; há um estilo fotográfico muito próprio de Grécio que, sem palavras, constrói uma narrativa dos objetos, que nos impele a ver o objeto e o seu contexto através dos seus olhos, inclusivé para lá da fotografia. Penso que Grécio protege o mundo assim, num investido diálogo entre visão e objeto. Se as suas peças, fotografias, ilustrações e pinturas tivessem uma banda sonora, teria sido feita pelo Piero Umiliani. O argumento desta escolha é do conhecimento tácito.
Durante o seu percurso profissional já fotografou peças do Fernando Brízio (1968-), desenhou para a marca de design nacional contemporânea Ghome e até já colaborou como assistente de arte para uma série da RTP, Lugar 54, com data de estreia ainda a anunciar.
Pessoa com personalidade de baleia e de borboleta. Olhos castanhos, rosto redondo, pé 39. Overthinker.
Licenciou-se em Ciências da Comunicação, fez artesanato em Óbidos, ainda não tirou a carta.
Absorve tudo o que puder, mais pelo pathos do que pelo logos. Para o ethos recomenda trekkings e tendas.
Atualmente estuda Gestão e Valorização do Património Histórico e Cultural na Universidade Évora.
Pessoa com personalidade de baleia e de borboleta. Olhos castanhos, rosto redondo, pé 39. Overthinker.
Licenciou-se em Ciências da Comunicação, fez artesanato em Óbidos, ainda não tirou a carta.
Absorve tudo o que puder, mais pelo pathos do que pelo logos. Para o ethos recomenda trekkings e tendas.
Atualmente estuda Gestão e Valorização do Património Histórico e Cultural na Universidade Évora.