João Freitas é um pintor do Porto que já expôs individualmente aí e em Lisboa. Falar dele e falar do seu trabalho são dois exercícios para mim muito diferentes. Ele é um verdadeiro modelo da amizade e da alegria de viver e é impossível recordá-lo sem sorrir. Para ti, leitor ou leitora, seguem-se as minhas breves palavras sobre a parte do João que existe na pintura.
Cada composição de João Freitas é um jogo de exploração de cruzamento de cores, essas entidades de reconhecimento individualizado invocadas a coexistir dinamicamente, misturando-se na intersecção, no contacto, na sobreposição, mas reconhecidas separadamente. Nas suas telas, as cores são cores-forma, explorações formalistas de um acumular de prática profissional, mas também lembranças de sequências e aglomerados de elevações e depressões geológicas com cheiro a mar, diluídas na amplitude da miragem de um contemplador de paisagens, transfiguradas pela energia de um impulso criativo.
São pinturas a vários ritmos e forças. Se num primeiro momento seguimos as suas rotas de trinchas e espátulas que deslizaram rápidas, repetidas, invertidas e contrariadas, algumas com o fluxo da queda vertiginosa de um rio de largo caudal, noutro momento surpreendem-nos as trajetórias subtis, desacelarando-nos e acalmando-nos, pinceladas geralmente abertas e translúcidas, que se parecem desagarrar da tela para se transformarem em brisas suaves, ou em sedas leves, ou em feixes de luz de lasers de palco ou das latitudes boreais.
Sem fornecer evidentes leituras, com excepção dos títulos que Freitas escolhe com poesia e humor e que parecem versos das musicalidades que o acompanham no quotidiano, a saturada exploração do seu estilo pictórico revela um compromisso do pintor com a sua linguagem, uma linguagem do movimento subjacente ao momento de pintar. De forma simples mas não redutora, Freitas foca-se no pintar, no pintar como ação, como fazer suficiente em si próprio, sem que pintar acorrente a si um “o quê”.
Creio que esta elementaridade é uma das coisas que nos faz meditar de frente para as suas telas e que nos faz querer estar perto delas. Se primeiro nos convidam a mergulhar dentro delas, seguir as pinceladas e especular cronologias, logo a seguir fazem-nos evadir, não apenas porque nos sugerem a impressão de continuidade e de fluidez da pintura fora dos limites da tela; do que aliás ficou marcado fora da tela, algures no soalho ou na parede do seu atelier; mas também porque a partir disto elas invocam ambientes, simultaneamente criando ambiente e ativando sinais referenciais subjetivos para a imaginação de ambientes. Para mim, são pinturas cheias de vento, não como Clitemnestra teme, mas como um veleiro deseja.
Pessoa com personalidade de baleia e de borboleta. Olhos castanhos, rosto redondo, pé 39. Overthinker.
Licenciou-se em Ciências da Comunicação, fez artesanato em Óbidos, ainda não tirou a carta.
Absorve tudo o que puder, mais pelo pathos do que pelo logos. Para o ethos recomenda trekkings e tendas.
Atualmente estuda Gestão e Valorização do Património Histórico e Cultural na Universidade Évora.
Pessoa com personalidade de baleia e de borboleta. Olhos castanhos, rosto redondo, pé 39. Overthinker.
Licenciou-se em Ciências da Comunicação, fez artesanato em Óbidos, ainda não tirou a carta.
Absorve tudo o que puder, mais pelo pathos do que pelo logos. Para o ethos recomenda trekkings e tendas.
Atualmente estuda Gestão e Valorização do Património Histórico e Cultural na Universidade Évora.