Associação Portuguesa das Artes e da Cultura

Franpancispiscapa

Ilustradora

No bosque dos gigantes

 

Num conto moldavo do início do século XX, existe um protagonista chamado Ilie Hârsoveanu, que descende dos Gigantes, seres que habitavam num lugar “lá em cima, na solidão” e que agoiravam sobre a espécie humana. Uma donzela de uma família de Gigantes tinha ido, um dia, colher rebentos de urtigas e de pinheiro, quando se deparou com cidadãos e cidadãs de uma aldeia pastoril. A donzela Gigante, recolheu alguns humaninhos e levou-os até à sua mãe, que tal como no filme franco-checo La Planète Sauvage, os considerava animais, mais do que inúteis, amaldiçoados e vis. 

Ilie era um guarda vigilante, obviamente mais alto do que o normal, muito bom observador e também bom narrador. Ilie, herdeiro da solidão e “dos caminhos árduos das alturas”, tinha contactos e experiências com vacas, corças e linces como mais nenhum outro humano.  

O fantástico mundo ilustrado de Franpancispiscapa, povoado de humanóides e de outros seres projetados do real e de (ir)realidades psicológicas, metafóricas e mitológicas, é uma celebração do gigantismo imatérico dos bichos, das pessoas e das quimeras. Dos seus traços contam-se histórias que transfiguram a magia da experiência, quase sempre com temáticas onde a mais misteriosa agente – a natureza – se relaciona com o que Francisca mais vive e melhor desconhece – o seu subsconsciente. À semelhança de Ilie, os gigantes de Francisca têm super-poderes de observação e de compreensão: existem para nos recordarmos de ver, se pudermos olhar; de reparar, se pudermos ver, como escreveu Saramago.

Os mitos e as tradições pagãs do nosso imaginário vernacular manifestam-se com ainda mais evidência no seu trabalho cerâmico, por exemplo, na série de máscaras de rosto (2023).

Na edição de 2022 da Feira do Livro do Porto – cidade em que pelas ruas podemos encontrar partes do universo da artista – Francisca pintou uma marcha de 7 seres na Concha Acústica dos Jardins do Palácio de Cristal. Estas figuras antropomórficas e zoomórficas, caminham de oriente para ocidente, atrás de um pássaro que voa e encaminha os restantes na rota do sol.

Dos Oms de Laloux aos yokai japoneses, das máscaras de Lazarim aos bosques de Alice no País das Maravilhas, Francisca cria o seu universo connosco, ilustrando-nos que a realidade é prolifera em sonhos.

 

Mafalda Balona

Mafalda Balona

Pessoa com personalidade de baleia e de borboleta. Olhos castanhos, rosto redondo, pé 39. Overthinker.
Licenciou-se em Ciências da Comunicação, fez artesanato em Óbidos, ainda não tirou a carta.
Absorve tudo o que puder, mais pelo pathos do que pelo logos. Para o ethos recomenda trekkings e tendas.
Atualmente estuda Gestão e Valorização do Património Histórico e Cultural na Universidade Évora.

Mafalda Balona

Mafalda Balona

Pessoa com personalidade de baleia e de borboleta. Olhos castanhos, rosto redondo, pé 39. Overthinker.
Licenciou-se em Ciências da Comunicação, fez artesanato em Óbidos, ainda não tirou a carta.
Absorve tudo o que puder, mais pelo pathos do que pelo logos. Para o ethos recomenda trekkings e tendas.
Atualmente estuda Gestão e Valorização do Património Histórico e Cultural na Universidade Évora.